Elas no poder: A importância da representatividade feminina na política baiana
08 de março de 2022 às 09h01 | Foto: Reprodução
Apesar de serem maioria na sociedade, as mulheres ainda têm pouco espaço na política brasileira. No entanto, aos poucos estão ocupando diferentes cargos de protagonismo neste ambiente predominantemente masculino. Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres (8), o Portal Salvador FM conversou com três parlamentares baianas: Ivana Bastos, deputada estadual e ex-presidente do PSD Mulher; Laina Crisóstomo e Marcelle Moraes, vereadoras da capital baiana.
Uma pesquisa divulgada pelo IBGE em maio de 2020, aponta que 51,6% da população baiana é composta por mulheres, porém, essa maioria feminina na sociedade não é refletida na política estadual. Atualmente, somente 52 dos 417 municípios baianos são comandados por mulheres, enquanto somente 10 das 63 cadeiras na Assembleia Legislativa da Bahia são ocupadas pelo sexo feminino. Na capital baiana, a Câmara Municipal de Salvador conta com 9 vereadoras em um universo de 43 edis.
“As mulheres não são estimuladas a serem candidatas, a pensarem, a sonharem em ser candidatas, não é uma coisa comum, porque na verdade colocaram no imaginário das mulheres que não, não é possível ocupar esse espaço [...] nós somos maioria da população mas infelizmente estamos elegendo quem historicamente nos oprime e nos limita”, afirma Laina que destaca ainda que somente em 2021 a Casa legislativa de Salvador conseguiu compor as 9 cadeiras da Comissão da Mulher.
Dos 52 municípios baianos comandados por mulheres, 14 gestoras municipais são filiadas ao PSD. O resultado é fruto do investimento no PSD Mulher, presidido pela deputada Ivana Bastos entre 2018 e 2020 - ano das eleições municipais.
De acordo com Ivana, apesar de ser muito difícil colocar mulheres na política, o partido traçou um planejamento que deu certo. A sigla criou mais de 90 diretórios do PSD Mulher na Bahia convocando as mulheres, fazendo serem candidatas, para se filiarem, gerando o maior número de mulheres eleitas entre prefeitas e vereadoras no estado.
Dificuldades enfrentadas dentro do ambiente político
Muitas são as dificuldades relatadas pelas parlamentares, mas uma delas é unânime: O machismo intrínseco no cenário político.
“Eu sinto até hoje [dificuldades dentro do universo político pelo fato de ser mulher] eu tenho mais de 20 anos que estou na política, eu senti dificuldades enormes em ser presidente UNALE [União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais], de ser recebida em Casas legislativas e a dificuldade o ‘rabo de olho’ de outros deputados pelo fato de ser uma mulher ali na frente [...] até hoje eu sinto essa discriminação”, declara Ivana.
Marcelle aponta ainda que dentre as dificuldades que passou estão a falta de validação do discurso feminino e destacou também uma vontade por parte dos homens de controlar as decisões das mulheres. A vereadora contou ainda que já sofreu com condutas abusivas por parte de alguns colegas.
“Já sofri vários [assédios], por trocas ‘eu consigo isso aqui pra você, em troca de sair comigo para um jantar’, os homens veem mulheres como objeto, já aconteceu diversas vezes, mas vem diminuindo”, declarou a edil.
Esse tipo de conduta abusiva também foi relatada por Laina. Quando perguntada sobre episódios de assédio, a parlamentar afirmou que já sofreu assédio moral e sexual. “Tentativa de controle do meu corpo. Eu sou uma mulher que posto fotos sensuais nas redes, não me visto nos padrões estabelecidos, que as pessoas esperam do que deveria ser uma parlamentar ou do que deveria ser uma advogada [...] eu sou quem eu sou, não finjo. Já sofri tanto assédio moral quanto assédio sexual, postar uma foto sensual não me faz menos competente nem menos capaz de ser parlamentar”, apontou Laina.
Mulheres no Poder
Sobre a necessidade do protagonismo feminino em espaços de poder na sociedade, Marcelle destaca que está havendo uma crescente na adesão feminina à política, mas ressalta que ainda é uma crescente pequena, e faz apelo para que as mulheres se encorajem a adentrar na política. “Nós precisamos incentivar cada vez mais meninas e mulheres jovens para perder o medo, nosso lugar de ocupação é em todas as esferas, inclusive na política”, ressalta.
Laina destaca ainda que a política baiana não precisa de somente mulheres candidatas, mas sim de maioria de mulheres eleitas. Para ela, ocupar espaços de poder tem relação com o processo de representatividade. "Quando a gente ocupa os espaços de poder tem uma diferença, a gente é quem vai falar sobre a nossa dor [...] é sobre lugar de fala, quem sente a dor é quem tem proposta real de solução do problema”, acrescentou a vereadora da capital baiana.